Ditadura da Barbie': como a boneca deturpou corpos e segregou
Por um escritor misterioso
Descrição
Como a boneca deturpou corpos e segregou pessoas
Todas as mulheres do mundo queriam ser como a Barbie em 1960. O motivo? Ela era a personificação do sonho americano e um símbolo estético da “mulher perfeita”: olhos azuis, cabelos loiros, magra e com uma cintura estreita. Ela é bem-sucedida em sua profissão, por isso tem dinheiro, mora em uma mansão e dirige o caro do ano. Ah, e como se isso não bastasse, ela tem um namorado perfeito ao seu lado, cujos atributos físicos são iguais aos seus. Afinal, semelhante atrai semelhante, certo?Desde a sua criação, em 1959, a Barbie se transformou em um ícone cultural do mundo, mas, sobretudo, dos EUA, onde seu estilo de vida fictício e glamoroso foi exibido e comercializado como objeto de desejo. Se a estética da boneca foi incorporada desde a indústria da moda até o mercado imobiliário, é porque a Mattel investiu em marketing e publicidade de maneira tão agressiva para criar uma imagem atraente e aspiracional em torno da Barbie, que alcançou todas as idades.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Não é para menos que o sucesso comercial do produto permitiu que a Mattel se tornasse uma das marcas de brinquedos mais valiosas do mundo, redefinindo um mercado inteiro. A cada minuto, cerca de 164 Barbies são vendidas globalmente, sendo que entre 2012 e 2022, a boneca rendeu US$ 1,49 bilhão para a empresa.Mas enquanto a Barbie vendia 300 mil unidades em seu ano de estreia, esgotava lojas de brinquedos, dominava comerciais e era retratada pelos quatro cantos em um convite ao seu mundo cor de rosa, também distorcia a autoimagem das crianças, reforçava estereótipos de gênero e segregava a sociedade.Projetando sonhosRuth Handler. (Fonte: Mattel Creations Community/Reprodução)Barbara Millicent Roberts, a Barbie, ganhou esse nome em homenagem à filha de Ruth Handler, fundadora da Mattel e responsável por idealizar a boneca. Aos 42 anos, a mulher percebeu que sua filha de apenas 9 havia descartado sua boneca B W, com características de bebê, e se apegado à Chatty Cathy, que tinha uma imagem um pouco mais adulta. Quando questionada pela mãe o motivo, a menina respondeu que podia se projetar melhor naquele tipo de boneca.A década de 1950 era dominada por bonecas feitas de plástico, vinil, celuloide ou papel machê, em sua maioria rígidas ou com articulações limitadas, sempre representando bebês ou crianças. Foi então que a empresária percebeu que havia uma lacuna no mercado de brinquedos: não havia bonecas que representassem uma jovem mulher adulta.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Ao levar a ideia ao seu marido e aos executivos da Mattel, à princípio, Handler não foi bem recebida, porque era um consenso que desenvolver uma boneca com corpo adulto poderia ser problemático. No entanto, após muitas discussões, eles chegaram à conclusão que da mesma forma como essa ideia poderia destruí-los, também poderia torná-los referência no mercado.Assim, Barbie foi moldada a partir da famosa boneca Bild Lilli, criada à imagem de uma personagem alemã de quadrinhos e lançada em 9 de março de 1959 na American Toy Fair de Nova York. A boneca foi disponibilizada em duas versões, uma loira e outra morena, ambas com rabo de cavalo e franja cacheada, usando um maiô listrado em preto e branco.Handler não poderia imaginar que aquele pedaço de plástico no valor de US$ 3 daria início ao seu maior legado, tampouco que se tornaria um instrumento tão poderoso.Um ideal de perfeição(Fonte: GettyImages/Reprodução)Desde o princípio, a propaganda ao redor da Barbie tinha o objetivo de ensinar às meninas como se tornar uma mulher “equilibrada e decente”. A boneca deveria ser um arauto, um instrumento que ajudaria as crianças a se transformarem em mulheres antes de desejarem ser mães, aprendendo a se comportar, se vestir e aspirar a uma vida perfeita.“Nenhuma mãe vai comprar para a filha uma boneca com seios”, disse o marido de Handler, quando ela apresentou o projeto da Barbie. Por essa razão que todos os pilares por trás da boneca precisavam estar condizentes com o que os pais esperavam de um brinquedo. Ou seja, o storytelling era essencial para vender o produto.(Fonte: GettyImages/Reprodução)No ano de sua estreia, Barbie foi divulgada no influente The Mickey Mouse Club, da Disney, propondo que as meninas sonhassem com seu próprio futuro. O comercial exibiu Barbies como modelos ideais, deixando claro que toda menina poderia ser ou se tornar a boneca quando crescesse.“Um dia serei exatamente como você, Barbie. Até lá, eu sei exatamente o que vou fazer, vou acreditar que sou você”, era a frase que terminava o anúncio que fez a Mattel vender só naquele ano 350 mil unidades da boneca.O problema é que nada sobre a Barbie era ou é real.A grande mentira(Fonte: GettyImages/Reprodução)Há anos, o poderio de psicologia clínica reconheceu a importância em crianças se envolverem com brinquedos. É dessa forma que elas internalizam elementos sociais importantes para seu desenvolvimento social, como normas, valores e papeis adultos. Os brinquedos influenciam o autoconceito, entrando na vida de uma criança e se tornando parte essencial de sua identidade.Em 2006, um estudo publicado na revista Developmental Psychology reuniu 162 meninas, de 5 a 8 anos, algumas das quais foram expostas à Barbie e outras a nenhuma boneca antes de serem submetidas a uma avalição sobre autoimagem. Aquelas que tiveram contato com a Barbie relataram menor estima corporal, flertando com sintomas que poderiam indicar alimentação desordenada, ciclismo de peso e maior desejo por uma forma corporal mais magra.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Apesar de esse impacto negativo da boneca não ter sido mais evidente em meninas mais velhas, não deixa de mostrar como modelos aspiracionais e exposição precoce sintetizam um ideal de corpo magro irrealista, podendo prejudicar a imagem corporal das meninas de maneira duradoura.Um estudo publicado no The Wiley Handbook Disorders mostrou que cerca de 50% das meninas norte-americanas de 13 anos relataram insatisfação com seu corpo. Ao atingirem os 17 anos, esse número apresentou crescimento de quase 80% devido às mudanças fisiológicas, sociais e psicológicas que os adolescentes enfrentam nesse período. Quase 80% das jovens relataram medo de engordar e 53% delas acreditavam que não eram magras o suficiente, deixando claros sintomas clínicos de transtorno dismórfico corporal.Uma epidemia chamada Barbie(Fonte: GettyImages/Reprodução)Em 2014, a deputada Mary Glindon fundou a campanha Be Real no Reino Unido a fim de combater ondas epidêmicas de problemas com autoestima corporal que corroem a psicologia dos jovens. Uma pesquisa desenvolvida pelo projeto descobriu que 79% dos jovens de 11 a 16 anos se preocupam em excesso com sua aparência. Pelo menos 36% deles relataram que fariam “o que fosse preciso” para “parecer bem”.Antes que esteja se perguntando, não, a Barbie nunca disse que as meninas deveriam colocar o dedo na garganta e induzir o vômito, mas o marketing de sua presença na vida delas se tornou uma força que exerce a pressão social que as mulheres sofrem há séculos. Afinal, a magreza sempre foi associada a características positivas, como virtude, disciplina e autocontrole.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Entre os séculos XVII e XVIII, as mulheres acumularam uma série de problemas físicos, de questões respiratórias a deslocamento de órgãos, devido ao uso prolongado do espartilho, fruto do período renascentista. Tudo por uma cintura ultrafina e um corpo esbelto e longilíneo, considerado sinal de status e boa criação. Foram esses ideais que criaram raízes no senso comum e instauraram a percepção de beleza e modelo estético que prevalecem.No estudo “As primeiras experiências e visões dos adolescentes com a Barbie”, os psicólogos Tara Kuther e Erin McDonald perceberam que o ideal de vida e corpo perfeito da Barbie não são mais levados a sério por meninas quando começam a transição para a adolescência. Quando em contato com a boneca, em vez de se envolverem em brincadeiras de faz de conta, elas recorrem a uma espécie de violência e tortura com o brinquedo. Isso inclui bater, esfaquear, cortar os cabelos e até queimar a Barbie. As crianças vivenciaram a experiência com bom-humor e rebeldia contra a perfeição social sintetizada na boneca. Quando indagados porque havia prazer em fazer isso, algumas meninas fizeram comentários do tipo: “Elas sempre são tão perfeitas, isso é demais para mim”.Instrumento de segregação(Fonte: GettyImages/Reprodução)Em 2014, Kim Culmone, vice-presidente sênior e diretora de design global da Mattel, confessou à revista Fast Company que a Barbie nunca foi projetada para ser perfeita, a começar por suas medidas. O intuito da boneca era que fosse apenas um cabide de roupas, para que as meninas pudessem vesti-la mais rápido e facilmente, por isso suas dimensões são irreais.Culmone, no entanto, só se esqueceu que a Barbie nunca foi comercializada assim. Em vez disso, a Mattel enfatizou que seria possível alguém caber no corpo da Barbie, que pesaria 50 kg e teria um Índice de Massa Corporal (IMC) de 16,24 se fosse real, se encaixando na categoria de uma pessoa anoréxica.Entender a Barbie como um subproduto do seu tempo é lançar um olhar não só sobre como seu padrão de beleza inalcançável deturpou a percepção das crianças sobre a autoimagem, mas como segregou identidades.Em 1966, a Mattel introduziu ao mercado a boneca Francie, apresentada como a prima moderna e mais jovem da Barbie. Ela ainda mantinha as mesmas características que a boneca, com cabelos loiros e olhos azuis ou castanhos, só que em diferentes tons de pele –, mas que não passavam de variações ainda brancas.O intuito da fabricante era oferecer às crianças mais opções e diversidade em sua linha de bonecas. Isso pode até parecer bonito e inclusivo, apesar de ainda capitalista, se no ano seguinte não tivesse lançado a versão Colored Francie ('Francie de cor'). Ao lançar um produto com características físicas estereotipadas ou exageradas em relação a pessoas negras, a Mattel deixou claro que não sabia o que estava fazendo, tampouco se importava.(Fonte: Barbie Wiki/Reprodução)Claro, estamos falando dos EUA da década de 1960, vivendo o apogeu da segregação racial, onde algumas regiões proibiam lojas de brinquedos destinadas ao público negro. Muitos fabricantes, como a Mattel, não se esforçavam em atingir esse mercado e, quando o faziam, inferiorizavam ainda mais grupos minoritários oferecendo produtos que não só reforçavam o quanto eles não eram benquistos naquela sociedade, quanto não eram considerados bonitos.E isso nos leva de volta à 1940, quando os psicólogos Kenneth e Mamie Clark desenvolveram o Teste das Bonecas, um experimento projetado para examinar os efeitos do racismo e da segregação racial nas atitudes e percepções de crianças negras em relação a si mesmas e a outras pessoas de diferentes etnias nos EUA. Eles expuseram as crianças a bonecas com características idênticas, mas com diferenças raciais.O resultado mostrou que a maioria das crianças negras preferiam a boneca branca, atribuindo-lhe características positivas e agradáveis, enquanto a boneca negra era frequentemente associada a características negativas e indesejáveis. Isso deixou claro que crianças já internalizavam os estereótipos raciais e demonstravam uma visão negativa de si mesmas e de sua própria raça, devido ao ambiente social e cultural em que viviam.A questão Barbie(Fonte: GettyImages/Reprodução)O experimento foi a base para a decisão da Suprema Corte dos EUA no caso Brown v. Bancada da Educação de Topeka em 1954, que tornou inconstitucional a segregação racial entre brancos e negros nas escolas públicas do país.Até 2014, Culmone não acreditava que a Barbie ou qualquer outra boneca influenciava negativamente as crianças, e que as pessoas estavam exagerando. “É preciso lembrar que as percepções das meninas são muito diferentes das percepções dos adultos sobre o que é ou não real, e quais são suas influências”, disse ela, ignorando anos de estudo clínico especializado sobre a influência dos brinquedos na autoimagem, autoestima e na percepção corporal.Nada ironicamente, esse pensamento da Mattel mudou em 2016, em um dos períodos mais turbulentos da empresa, quando Barbie vinha sofrendo uma queda nas vendas devido à influência do mercado eletrônico na vida das crianças. A linha Barbie Fashionistas apresentou uma variedade de formas corporais, tons de pele e estilos de cabelo, buscando atrair um publico mais diversificado e se tornar inclusiva.E isso deu certo porque a Barbie não é só uma boneca, um brinquedo que guarda memórias, ela é o poder da mídia e da propaganda; é o simulacro de uma sociedade que triunfa na estética; é a lembrança de uma raça que negligencia as outras. Barbie é o excesso de imagens e representações do qual sociólogo francês Jean Baudrillard se refere, capaz de obscurecer tanto a realidade que nos torna incapazes de distinguir o verdadeiro do falso.
Todas as mulheres do mundo queriam ser como a Barbie em 1960. O motivo? Ela era a personificação do sonho americano e um símbolo estético da “mulher perfeita”: olhos azuis, cabelos loiros, magra e com uma cintura estreita. Ela é bem-sucedida em sua profissão, por isso tem dinheiro, mora em uma mansão e dirige o caro do ano. Ah, e como se isso não bastasse, ela tem um namorado perfeito ao seu lado, cujos atributos físicos são iguais aos seus. Afinal, semelhante atrai semelhante, certo?Desde a sua criação, em 1959, a Barbie se transformou em um ícone cultural do mundo, mas, sobretudo, dos EUA, onde seu estilo de vida fictício e glamoroso foi exibido e comercializado como objeto de desejo. Se a estética da boneca foi incorporada desde a indústria da moda até o mercado imobiliário, é porque a Mattel investiu em marketing e publicidade de maneira tão agressiva para criar uma imagem atraente e aspiracional em torno da Barbie, que alcançou todas as idades.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Não é para menos que o sucesso comercial do produto permitiu que a Mattel se tornasse uma das marcas de brinquedos mais valiosas do mundo, redefinindo um mercado inteiro. A cada minuto, cerca de 164 Barbies são vendidas globalmente, sendo que entre 2012 e 2022, a boneca rendeu US$ 1,49 bilhão para a empresa.Mas enquanto a Barbie vendia 300 mil unidades em seu ano de estreia, esgotava lojas de brinquedos, dominava comerciais e era retratada pelos quatro cantos em um convite ao seu mundo cor de rosa, também distorcia a autoimagem das crianças, reforçava estereótipos de gênero e segregava a sociedade.Projetando sonhosRuth Handler. (Fonte: Mattel Creations Community/Reprodução)Barbara Millicent Roberts, a Barbie, ganhou esse nome em homenagem à filha de Ruth Handler, fundadora da Mattel e responsável por idealizar a boneca. Aos 42 anos, a mulher percebeu que sua filha de apenas 9 havia descartado sua boneca B W, com características de bebê, e se apegado à Chatty Cathy, que tinha uma imagem um pouco mais adulta. Quando questionada pela mãe o motivo, a menina respondeu que podia se projetar melhor naquele tipo de boneca.A década de 1950 era dominada por bonecas feitas de plástico, vinil, celuloide ou papel machê, em sua maioria rígidas ou com articulações limitadas, sempre representando bebês ou crianças. Foi então que a empresária percebeu que havia uma lacuna no mercado de brinquedos: não havia bonecas que representassem uma jovem mulher adulta.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Ao levar a ideia ao seu marido e aos executivos da Mattel, à princípio, Handler não foi bem recebida, porque era um consenso que desenvolver uma boneca com corpo adulto poderia ser problemático. No entanto, após muitas discussões, eles chegaram à conclusão que da mesma forma como essa ideia poderia destruí-los, também poderia torná-los referência no mercado.Assim, Barbie foi moldada a partir da famosa boneca Bild Lilli, criada à imagem de uma personagem alemã de quadrinhos e lançada em 9 de março de 1959 na American Toy Fair de Nova York. A boneca foi disponibilizada em duas versões, uma loira e outra morena, ambas com rabo de cavalo e franja cacheada, usando um maiô listrado em preto e branco.Handler não poderia imaginar que aquele pedaço de plástico no valor de US$ 3 daria início ao seu maior legado, tampouco que se tornaria um instrumento tão poderoso.Um ideal de perfeição(Fonte: GettyImages/Reprodução)Desde o princípio, a propaganda ao redor da Barbie tinha o objetivo de ensinar às meninas como se tornar uma mulher “equilibrada e decente”. A boneca deveria ser um arauto, um instrumento que ajudaria as crianças a se transformarem em mulheres antes de desejarem ser mães, aprendendo a se comportar, se vestir e aspirar a uma vida perfeita.“Nenhuma mãe vai comprar para a filha uma boneca com seios”, disse o marido de Handler, quando ela apresentou o projeto da Barbie. Por essa razão que todos os pilares por trás da boneca precisavam estar condizentes com o que os pais esperavam de um brinquedo. Ou seja, o storytelling era essencial para vender o produto.(Fonte: GettyImages/Reprodução)No ano de sua estreia, Barbie foi divulgada no influente The Mickey Mouse Club, da Disney, propondo que as meninas sonhassem com seu próprio futuro. O comercial exibiu Barbies como modelos ideais, deixando claro que toda menina poderia ser ou se tornar a boneca quando crescesse.“Um dia serei exatamente como você, Barbie. Até lá, eu sei exatamente o que vou fazer, vou acreditar que sou você”, era a frase que terminava o anúncio que fez a Mattel vender só naquele ano 350 mil unidades da boneca.O problema é que nada sobre a Barbie era ou é real.A grande mentira(Fonte: GettyImages/Reprodução)Há anos, o poderio de psicologia clínica reconheceu a importância em crianças se envolverem com brinquedos. É dessa forma que elas internalizam elementos sociais importantes para seu desenvolvimento social, como normas, valores e papeis adultos. Os brinquedos influenciam o autoconceito, entrando na vida de uma criança e se tornando parte essencial de sua identidade.Em 2006, um estudo publicado na revista Developmental Psychology reuniu 162 meninas, de 5 a 8 anos, algumas das quais foram expostas à Barbie e outras a nenhuma boneca antes de serem submetidas a uma avalição sobre autoimagem. Aquelas que tiveram contato com a Barbie relataram menor estima corporal, flertando com sintomas que poderiam indicar alimentação desordenada, ciclismo de peso e maior desejo por uma forma corporal mais magra.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Apesar de esse impacto negativo da boneca não ter sido mais evidente em meninas mais velhas, não deixa de mostrar como modelos aspiracionais e exposição precoce sintetizam um ideal de corpo magro irrealista, podendo prejudicar a imagem corporal das meninas de maneira duradoura.Um estudo publicado no The Wiley Handbook Disorders mostrou que cerca de 50% das meninas norte-americanas de 13 anos relataram insatisfação com seu corpo. Ao atingirem os 17 anos, esse número apresentou crescimento de quase 80% devido às mudanças fisiológicas, sociais e psicológicas que os adolescentes enfrentam nesse período. Quase 80% das jovens relataram medo de engordar e 53% delas acreditavam que não eram magras o suficiente, deixando claros sintomas clínicos de transtorno dismórfico corporal.Uma epidemia chamada Barbie(Fonte: GettyImages/Reprodução)Em 2014, a deputada Mary Glindon fundou a campanha Be Real no Reino Unido a fim de combater ondas epidêmicas de problemas com autoestima corporal que corroem a psicologia dos jovens. Uma pesquisa desenvolvida pelo projeto descobriu que 79% dos jovens de 11 a 16 anos se preocupam em excesso com sua aparência. Pelo menos 36% deles relataram que fariam “o que fosse preciso” para “parecer bem”.Antes que esteja se perguntando, não, a Barbie nunca disse que as meninas deveriam colocar o dedo na garganta e induzir o vômito, mas o marketing de sua presença na vida delas se tornou uma força que exerce a pressão social que as mulheres sofrem há séculos. Afinal, a magreza sempre foi associada a características positivas, como virtude, disciplina e autocontrole.(Fonte: GettyImages/Reprodução)Entre os séculos XVII e XVIII, as mulheres acumularam uma série de problemas físicos, de questões respiratórias a deslocamento de órgãos, devido ao uso prolongado do espartilho, fruto do período renascentista. Tudo por uma cintura ultrafina e um corpo esbelto e longilíneo, considerado sinal de status e boa criação. Foram esses ideais que criaram raízes no senso comum e instauraram a percepção de beleza e modelo estético que prevalecem.No estudo “As primeiras experiências e visões dos adolescentes com a Barbie”, os psicólogos Tara Kuther e Erin McDonald perceberam que o ideal de vida e corpo perfeito da Barbie não são mais levados a sério por meninas quando começam a transição para a adolescência. Quando em contato com a boneca, em vez de se envolverem em brincadeiras de faz de conta, elas recorrem a uma espécie de violência e tortura com o brinquedo. Isso inclui bater, esfaquear, cortar os cabelos e até queimar a Barbie. As crianças vivenciaram a experiência com bom-humor e rebeldia contra a perfeição social sintetizada na boneca. Quando indagados porque havia prazer em fazer isso, algumas meninas fizeram comentários do tipo: “Elas sempre são tão perfeitas, isso é demais para mim”.Instrumento de segregação(Fonte: GettyImages/Reprodução)Em 2014, Kim Culmone, vice-presidente sênior e diretora de design global da Mattel, confessou à revista Fast Company que a Barbie nunca foi projetada para ser perfeita, a começar por suas medidas. O intuito da boneca era que fosse apenas um cabide de roupas, para que as meninas pudessem vesti-la mais rápido e facilmente, por isso suas dimensões são irreais.Culmone, no entanto, só se esqueceu que a Barbie nunca foi comercializada assim. Em vez disso, a Mattel enfatizou que seria possível alguém caber no corpo da Barbie, que pesaria 50 kg e teria um Índice de Massa Corporal (IMC) de 16,24 se fosse real, se encaixando na categoria de uma pessoa anoréxica.Entender a Barbie como um subproduto do seu tempo é lançar um olhar não só sobre como seu padrão de beleza inalcançável deturpou a percepção das crianças sobre a autoimagem, mas como segregou identidades.Em 1966, a Mattel introduziu ao mercado a boneca Francie, apresentada como a prima moderna e mais jovem da Barbie. Ela ainda mantinha as mesmas características que a boneca, com cabelos loiros e olhos azuis ou castanhos, só que em diferentes tons de pele –, mas que não passavam de variações ainda brancas.O intuito da fabricante era oferecer às crianças mais opções e diversidade em sua linha de bonecas. Isso pode até parecer bonito e inclusivo, apesar de ainda capitalista, se no ano seguinte não tivesse lançado a versão Colored Francie ('Francie de cor'). Ao lançar um produto com características físicas estereotipadas ou exageradas em relação a pessoas negras, a Mattel deixou claro que não sabia o que estava fazendo, tampouco se importava.(Fonte: Barbie Wiki/Reprodução)Claro, estamos falando dos EUA da década de 1960, vivendo o apogeu da segregação racial, onde algumas regiões proibiam lojas de brinquedos destinadas ao público negro. Muitos fabricantes, como a Mattel, não se esforçavam em atingir esse mercado e, quando o faziam, inferiorizavam ainda mais grupos minoritários oferecendo produtos que não só reforçavam o quanto eles não eram benquistos naquela sociedade, quanto não eram considerados bonitos.E isso nos leva de volta à 1940, quando os psicólogos Kenneth e Mamie Clark desenvolveram o Teste das Bonecas, um experimento projetado para examinar os efeitos do racismo e da segregação racial nas atitudes e percepções de crianças negras em relação a si mesmas e a outras pessoas de diferentes etnias nos EUA. Eles expuseram as crianças a bonecas com características idênticas, mas com diferenças raciais.O resultado mostrou que a maioria das crianças negras preferiam a boneca branca, atribuindo-lhe características positivas e agradáveis, enquanto a boneca negra era frequentemente associada a características negativas e indesejáveis. Isso deixou claro que crianças já internalizavam os estereótipos raciais e demonstravam uma visão negativa de si mesmas e de sua própria raça, devido ao ambiente social e cultural em que viviam.A questão Barbie(Fonte: GettyImages/Reprodução)O experimento foi a base para a decisão da Suprema Corte dos EUA no caso Brown v. Bancada da Educação de Topeka em 1954, que tornou inconstitucional a segregação racial entre brancos e negros nas escolas públicas do país.Até 2014, Culmone não acreditava que a Barbie ou qualquer outra boneca influenciava negativamente as crianças, e que as pessoas estavam exagerando. “É preciso lembrar que as percepções das meninas são muito diferentes das percepções dos adultos sobre o que é ou não real, e quais são suas influências”, disse ela, ignorando anos de estudo clínico especializado sobre a influência dos brinquedos na autoimagem, autoestima e na percepção corporal.Nada ironicamente, esse pensamento da Mattel mudou em 2016, em um dos períodos mais turbulentos da empresa, quando Barbie vinha sofrendo uma queda nas vendas devido à influência do mercado eletrônico na vida das crianças. A linha Barbie Fashionistas apresentou uma variedade de formas corporais, tons de pele e estilos de cabelo, buscando atrair um publico mais diversificado e se tornar inclusiva.E isso deu certo porque a Barbie não é só uma boneca, um brinquedo que guarda memórias, ela é o poder da mídia e da propaganda; é o simulacro de uma sociedade que triunfa na estética; é a lembrança de uma raça que negligencia as outras. Barbie é o excesso de imagens e representações do qual sociólogo francês Jean Baudrillard se refere, capaz de obscurecer tanto a realidade que nos torna incapazes de distinguir o verdadeiro do falso.
A História Obscura por trás da boneca Barbie
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